sexta-feira, 27 de junho de 2008

O passado é o alicerce, mas ainda há muito o que fazer

Começou no Colégio Estadual do Paraná, no dia 25/06/2008, um evento sobre ANISTIA E DEMOCRACIA, onde seriam discutidos temas como repressão, perseguição política, entre outros. Como os nossos processos estão baseados em leis de 71, auge da repressão, e de 76, respectivamente, o Estatuto do Magistério e o Estatuto do Servidor Público, resolvi participar.
Durante a abertura, participou da mesa a profª Maria Madselva Ferreira Feiges, fazendo um "emocionante" discurso sobre "democracia" - o primeiro dos muitos absurdos que viriam a seguir. Em seguida, uma colaboradora diretíssima e diletíssima da Madselva, agente de repressão dentro da escola, segundo relato de vários colegas e alunos, foi citada inúmeras vezes como símbolo do movimento pela anistia no Paraná. Ainda por cima, cantou "emocionadíssima" o hino nacional. Enquanto o Joel Ramalho (ex-presidente do GECEP) era retirado do CEP pelo chefe do GAA (outro importante colaborador da Madselva) e os representantes do GECEP não eram sequer mencionados, o Rafael Clabonde (UPES), o líder das invasões dos tubos de ligeirinho, foi citado inúmeras vezes como "modelo" de líder estudantil, sendo, inclusive, convidado a compor a mesa no 2º momento da noite (o que não ocorreu pelo fato de ele estar ausente do auditório, quando foi chamado). Quando a profª Madselva falou "brilhantemente sobre democracia", alguns alunos do grêmio, que têm contato diário com ela, vaiaram discretamente.
Encaminhei então um bilhete a um dos participantes que conduzia os trabalhos naquela noite, solicitando um espaço de três minutos para falar sobre a situação do CEP. Negaram-me a palavra! Em seguida, o organizador do evento justificou que "não queria misturar as coisas, pois foram boicotados em muitos lugares e o único espaço aberto para o evento foi no CEP". A resposta dele foi mais ou menos como dizer que se o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, tivesse aberto espaço e prestado apoio para a realização do evento, ele provavelmente também seria convidado a falar sobre democracia. Dois alunos perguntaram-me, no final: "Professora Malu, você continua acreditando na democracia?" Respondi que sim e expliquei-lhes o porquê de tamanha convicção. Outros alunos que estavam próximos concordavam com a cabeça, enquanto eu falava. Apesar de ter me alongado um pouco na exposição dos motivos, senti que aquilo lhes trazia algum conforto e, em momento algum, eles demonstraram impaciência ou desinteresse. Vim para casa com o coração apertado e pensando: que lição estes jovens recebem diariamente dos adultos que deveriam ser sua referência? Quais serão os efeitos da nossa incoerência nas escolhas que os mais jovens farão, no modelo de sociedade no qual atuarão e pelo qual lutarão? Apesar da tristeza pelo que presenciei no auditório do CEP naquele dia, teimosamente mantenho a esperança.
Fiquei sabendo que ontem, dia 26/06, os alunos fizeram, durante o evento, uma manifestação pelas diretas, no auditório, no período da tarde, e já foram punidos pela ousadia. A direção da escola ordenou que fosse tirada dos representantes do Grêmio a chave da Rádio Intervalo. Eles sabem que virão novas retaliações, mas parecem não estar com medo. Na consciência destes estudantes, pelo menos destes, há de prevalecer a opção pela construção da sociedade que todos nós merecemos: mais justa, mais humana e mais solidária! O que está faltando, para que isso aconteça concretamente, é que os nossos políticos e também os especialistas que falam sobre democracia e direitos humanos sejam um pouquinho mais coerentes. COERÊNCIA, esta é a palavra!

Ps: O ex-aluno Joel Ramalho, ex-presidente do GECEP foi expulso do Colégio Estadual do Paraná pelo fato de ele ter assinado um documento, no início deste ano, comprometendo-se a não entrar nas dependências do Colégio Estadual do Paraná durante o turno da noite. O motivo? Ele é considerado um "agitador", o principal responsável pelas manifestações dos alunos por democracia, ocorridas no ano passado.

Profª Malu

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