quarta-feira, 23 de abril de 2008

Educação de qualidade, responsabilidade somente da iniciativa privada?

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Opinião Quarta-feira, 23/04/2008
Opinião do dia 1

PARA O PARANÁ CRESCER, EDUCAÇÃO


Luciano Nakabashi e Evânio Felippe Boa parte dos estudos voltados para se entender o mecanismo de criação e difusão de tecnologia surgiu em meados dos anos 80, pois esse é o principal fator na determinação do crescimento econômico de longo prazo.

Um dos principais candidatos que surgiu nessa explicação foi o capital humano. A definição de capital humano é a composição de todas as qualificações adquiridas ou inatas ao indivíduo que aumentam o produto de uma economia.

Seus efeitos sobre o nível de produção e a taxa de crescimento de uma economia podem ser diretos ou indiretos. Por impactos diretos, nos referimos àqueles que afetam a renda através da melhora na produtividade marginal do trabalho, isto é, da maior habilidade dos trabalhadores na realização de suas respectivas tarefas.

Os efeitos indiretos são aqueles que afetam a quantidade de tecnologia disponível para ser utilizada no processo de produção. Assim, são os fatores que influenciam na criação e difusão de tecnologia, ou seja, ele é um importante insumo na criação de tecnologia, além de ser um elemento essencial no processo de aquisição de tecnologia criada em outras regiões ou países.

Uma variável geralmente utilizada para mensurar a quantidade de capital humano dos indivíduos é o número de seus anos de estudos. Utilizando essa variável e o PIB por trabalhador dos municípios paranaenses do censo demográfico do IBGE, que é feito a cada dez anos, pode-se chegar a algumas conclusões interessantes.

Embora o Paraná seja uma região de pequenas dimensões espaciais e com grande mobilidade dos fatores de produção em relação a estudos que comparam países ou estados, existem ainda grandes diferenças no nível do PIB por trabalhador. Em 1980, de um lado, existiam municípios com uma média de PIB por trabalhador, ao ano, entre R$ 2 mil e R$ 3 mil. Em Santa Cecília do Pavão, a cifra era de R$ 2.175. Para citar mais alguns exemplos, valores apenas pouco maiores foram registrados em Ortigueira (R$ 2.302), Califórnia (R$ 2.488), Indianápolis (R$ 2.794) e Tijucas do Sul (R$ 2.808).

Do outro lado, os dados de 1980 apontam um bom número de municípios com PIB por trabalhador ao redor de R$ 20 mil. É o caso de Balsa Nova (R$ 21.712), Paranaguá (R$ 22.159) e Quatro Barras (R$ 25.886).

A diferença entre a renda média dos trabalhadores dos municípios mais pobres para os mais prósperos chegava a quase 1.200%! Uma das variáveis que pode explicar, ao menos em parte, essa diferença é o capital humano. Comparando tempo médio de escolaridade nos três municípios com maior e menor renda, a diferença em números de anos chegava a ser mais de 100%, sem considerar o diferencial de qualidade.

A situação em 2000 apresenta uma leve melhora, com os municípios mais pobres apresentando um PIB por trabalhador acima de R$ 4 mil ao ano e os municípios mais ricos mantendo uma média ao redor de R$ 20 mil. Para se ter uma idéia da má distribuição em 2000, considerando o município mais pobre, o PIB por trabalhador era de R$ 3.727 (Tijucas do Sul), enquanto que na outra ponta temos São José dos Pinhais, com R$ 26.475. Ou seja, apesar da redução do abismo, havia ainda uma diferença superior a 700%.

Em um estudo empírico que realizamos para analisar o período 1980-2000, constatamos que o capital humano é uma variável crucial na explicação do diferencial no nível e na taxa de crescimento do PIB por trabalhador nos municípios paranaenses. Em outras palavras, a educação, quantitativa e qualitativamente fazem a diferença. Assim, os gestores de política econômica federais, estaduais e municipais não podem deixar de considerar essa variável em seus planos estratégicos para estimular o crescimento de longo prazo e melhorar a distribuição de renda nos municípios paranaenses.

Luciano Nakabashi é doutor em Economia, coordenador do boletim de Economia & Tecnologia e professor do Departamento de Economia da UFPR.

Evânio Felippe é mestre em Desenvolvimento Econômico e professor do Departamento de Economia da UFPR.

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