quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Texto de Rubens Tavares, professor História do CEP

Primavera do Colégio Estadual do Paraná.

O ano de 2007 ficará marcado na memória de todos os estudantes, professores, funcionários e pais e também da comunidade que acompanharam os fatos noticiados quase que diariamente pela imprensa.
Estão todos de parabéns, porque defenderam os seus direitos, suas convicções, suas posições filosóficas e políticas de maneira transparente, sem medo de se expor. Todos devem estar orgulhosos, porque a juventude, que sempre é criticada, se fez ouvir, se organizou, participou, se emocionou. Pois política sem emoção não é política e sim ideologia, e democracia sem participação não é democracia, e sim sua caricatura.
A república, neste país, está por ser construída; a democracia ainda caminha a passos lentos, e o que se deveria olhar com outros olhos, apenas reproduz o quadro de Bruguel: cegos guiando cegos não percebem a grandeza das manifestações, mas apenas querem enquadrá-las no olhar pequeno e rasteiro da baderna, dos agentes ocultos, das forças alienígenas, dos agitadores, reproduzindo discursos que se esperavam enterrados e sempre foram usados por setores mais conservadores. Foucault tem razão: o mesmo discurso tanto pode ser utilizado pela direita como pela esquerda, quando se trata de defender o poder.
Mas há outros que também se acham vitoriosos. A eles, parabéns! Venceram o medo, a imposição, a filmagem e a fotografia escondidas! Parabéns às cartas enviadas aos pais, peças dignas de análise tanto jurídica, quanto conceitual, lembrando os planos Cohen!
Parabéns ao poder estatal, que com toda a sua máquina quer esmagar jovens, enquadrar os diferentes, sempre com o argumento de nos defender, de preservar nosso bem estar!
Parabéns ao “professor” eufórico, que bradou “vencemos!”, quando um ato de violência foi cometido, esquecendo-se de que qualquer ato de violência venha de quem seja, é sempre a perda da força dos argumentos pelos argumentos da força. Parabéns à Direção, que deveria estar defendendo a comunidade e sendo sua porta voz, mas admite, de forma autoritária, a vigilância, a punição de professores e funcionários e a defesa intransigente do poder do Estado.
Parabéns aos que não querem que a sociedade civil se organize e que isso possibilite um novo entendimento na relação entre aparelho estatal e a sociedade civil! Parabéns para aqueles que conseguiram criar um falso confronto entre o Ensino Médio e o Profissionalizante, talvez inspirados no antigo ministro Gustavo Capanema!
Parabéns para aqueles que se deixaram levar pelo rancor, pela raiva, pelo combate sem ética! Parabéns para aqueles que acham que tudo se resume a ter cargos! Parabéns para aqueles que em cada corredor vêem sombras da oposição! Parabéns para os que seguem ordens cegamente! Parabéns para os que se prestam a serem bufões! Parabéns para os pequenos poderes exercidos pelos autoritários!
Parabéns para os que acham que quanto pior melhor, sejam quais forem os “seus lados”! Parabéns para os que acham que suas salas são o centro do mundo! Parabéns para os burocratas, estes sim sempre os mais afoitos a que a ordem seja estabelecida! Parabéns ao pensamento que parou, como diriam os estudantes do maio de 68, pois um pensamento que para é um pensamento que apodrece! Parabéns aos que sempre, no velho discurso do “vou te processar”, esquecem que ele é uma prerrogativa de qualquer estado de direito democrático, mediante a defesa, a acusação e o fornecimento de provas!
Parabéns aos que ensinaram seus alunos a não seguir os seus exemplos! Parabéns a todos que contribuíram para que qualquer ato de “indisciplina” seja visto como um ato sempre contrário à “ordem e aos bons costumes”! Parabéns! Vocês venceram!
Mas essa primavera não exala perfume, esse discurso não merece ser escutado, essas atitudes só serão lembradas quando se falar da resistência ao poder autoritário. Vocês serão lembrados quando se quiserem usar exemplos de como não devem ser os exemplos.
Parabéns, vocês realmente venceram!
Mas vencer, muitas vezes não significa ganhar.
Neste caso, trata-se de uma derrota, pois a vitória é dos estudantes, dos professores, dos funcionários e dos pais que se colocaram contra as medidas arbitrárias, contra o mandonismo, contra a aceitação pacífica de ovelhas, contra o obscurantismo, contra as medidas de exceção, contra as falácias do poder e a favor de suas utopias, de seus sonhos, da consciência, da cidadania, dos valores democráticos, da intransigência na defesa dos princípios fundamentais de um Estado republicano.
Saem todos de cabeça erguida, porque saem por onde entraram. Não precisam sair
pelos fundos e nem protegidos por seguranças, porque estão seguros de seus argumentos e objetivos.
Saem de olhar límpido, não ficaram cegos pelos benefícios do poder, saem de peito aberto, de coração tranqüilo, de sono sem pesadelo, porque não precisam mostrar os seus dentes. Saem de sorriso estampado, pois sabem que “não basta que seja e pura e justa a nossa luta, mas é necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós”.

Rubens Tavares, professor História do CEP

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