quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Carta às Famílias do Colégio Estadual do Paraná

Estamos atravessando uma crise profunda no Colégio Estadual do Paraná que nos obriga a tomar uma posição. Esta crise não vem de hoje e não está isolada daquilo que se passa para além dos muros do colégio. A intransigência daqueles que estão no poder e que, ironicamente, foram eleitos para representar a vontade da maioria é uma coisa bastante antiga na nossa tênue democracia. Mas não podemos, por isso, perder a esperança. Hannah Arendt, uma das principais pensadoras do século XX, que dedicou toda a sua vida à luta pela democracia, escreveu que “o milagre da liberdade está contido no fato de que cada homem é em si um novo começo, uma vez que, por meio do nascimento, veio ao mundo que existia antes dele e que vai continuar existindo depois dele”. Os alunos do Colégio Estadual do Paraná estão demonstrando na prática a verdade deste pensamento. Quando os mais velhos, professores e funcionários, já estavam ficando resignados com todos os desmandos da Direção Geral do Colégio Estadual do Paraná, foram os alunos que levantaram a cabeça, com muita dignidade, e disseram NÃO AO AUTORITARISMO. Com isso, ajudaram a resgatar a esperança quase perdida de muitos que já não viam mais nenhuma luz no final do túnel.
Este movimento contra o autoritarismo começou na terça-feira, dia 06/11, no turno da manhã, quando a profª Madselva fez a entrega de uma moto sorteada pela comissão de formatura. Os alunos começaram a fazer perguntas à diretora sobre os critérios do sorteio e aproveitaram o momento para perguntar-lhe outras coisas relativas à administração do colégio, tais como: critérios de avaliação e recuperação de estudos que têm barateado a qualidade da educação do CEP. A profª Madselva, diante de uma platéia de aproximadamente 1700 alunos, não respondeu às questões e ainda deu as costas aos estudantes que, daquele momento em diante, recusaram-se a entrar nas suas respectivas salas até que tivessem as respostas que tanto esperavam. Como suas indagações não foram respondidas, na quarta-feira, dia 07/11, deram prosseguimento aos protestos, agora com um novo propósito: FORA, MADSELVA. Nesse dia, professores e funcionários encheram o peito de coragem e somaram forças com os alunos que, afinal, estavam numa luta por democracia num ambiente em que predomina a intransigência, a intolerância e o pensamento único: estavam colocando em prática algumas das lições que aprenderam na teoria.
Desde que a profª Madselva assumiu a direção do colégio, no início deste ano, o Regimento Escolar vem sendo simplesmente desconsiderado. É como se não existisse um regimento, pois o que predomina é a vontade da Direção Geral. A escola pública tem por princípio a gestão democrática que está prevista na LDB (Lei de Diretrizes e Base da Educação) e na Constituição Federal. A gestão democrática, por sua vez, pressupõe o respeito do diretor, eleito ou não, a algumas instâncias deliberativas: Conselho Escolar, APMF e Grêmio Estudantil. Destas, a mais importante é o Conselho Escolar que é constituído por representantes de todos os segmentos da escola. Simplesmente não houve reuniões do Conselho Escolar do Colégio Estadual do Paraná, como instância consultiva e deliberativa, desde que a profª Madselva assumiu até o dia 24 de outubro (conforme carta assinada por membros Conselho Escolar anexada às 25 denúncias encaminhadas a SEED e ao Ministério Público). Quando houve convocação, foi apenas para referendar decisões tomadas pela Diretora Geral. Por sua vez, parte da APMF e do Grêmio Estudantil foram cooptados pela Direção Geral e já não representam o interesse da maioria. Exemplo disso foi que, enquanto os estudantes estavam protestando por democracia, o Presidente do GECEP estava participando de um programa na TV Paraná Educativa, chamado Fórum Social, defendendo a Direção Geral do Colégio Estadual do Paraná. Aliás, nesse “fórum” não havia nenhum tipo de pensamento divergente, ou seja, não havia ninguém que não estivesse lá apenas para defender a profª Madselva. Quanto ao papel da APMF, mesmo diante de toda a crise instalada, ainda não foi capaz de convocar uma reunião com os pais para esclarecer o que realmente está acontecendo, apesar de insistentes pedidos de alguns pais para que a reunião seja convocada. Houve uma convocação pela internet, postada no site colégio no dia 08/11, às 14h, para uma reunião que ocorreria no dia seguinte, às 8 h da manhã. Além do horário impróprio, inviável para a maioria dos pais, o meio de comunicação utilizado foi a internet, algo de que nem todas as famílias dispõem.
Os nossos estudantes estão dando uma verdadeira AULA DE CIDADANIA para a sociedade paranaense. Nós, como seus professores, ficamos muito orgulhosos daquilo que estamos presenciando. Mas temos pleno conhecimento de que, se eles são críticos, verdadeiros sujeitos históricos que não apenas vivem a história, como também a constroem conscientemente, esta responsabilidade não pode ser creditada apenas a nós, pois “o fruto não cai longe da árvore”. Esta capacidade crítica e toda a dignidade que estão demonstrando, temos certeza, eles aprenderam em casa. A educação começa em casa, continua na escola e não termina jamais. Ninguém deve se considerar velho demais para aprender algo de novo ou com os mais novos. Hoje são eles que ensinam aos mais velhos que é preciso resistir. O mundo vai continuar depois de nós e por isso temos uma grande responsabilidade por ele, por aquilo que será do mundo daqui a alguns anos. Quando alguém coloca um filho no mundo precisa ter muito clara esta responsabilidade. E temos certeza de que os pais destes filhos que hoje estão fazendo a história do Colégio Estadual do Paraná querem que o futuro deles seja num mundo mais justo, mais humano e mais fraterno.
Acreditando que todos queremos o melhor para nossos alunos e nossos filhos, convidamos a todos para uma REUNIÃO...APP(?)

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