sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O que está em jogo no Colégio Estadual do Paraná

O que está em jogo no Colégio Estadual do Paraná


“Querer fazer a revolução em um campo é concordar com o essencial do que é tacitamente exigido por esse campo, a saber, que ele é importante, que o que está em jogo aí é tão importante a ponto de se desejar aí fazer a revolução” (Pierre Bourdieu, É possível um ato desinteressado?). Diante do caos instalado no Colégio Estadual do Paraná, temos diversos interesses em jogo. Existe uma disputa bastante clara entre dois lados em evidente oposição. Mas não se trata de um maniqueísmo, de uma “guerra entre o bem e o mal”, como pretende demonstrar o lado que apóia a profª Madselva, que possui o respaldo de todo o aparato do Estado: Secretaria de Estado da Educação, Conselho Estadual de Educação, TV Cultura e agora, surpreendentemente, também o Ministério Público. O outro lado, denominado “alguns” estudantes, professores funcionários e pais, hoje representa a maioria absoluta da comunidade escolar. Ele não é nem elitista e muito menos o “lado escuro da força”: simplesmente está lutando por democracia num ambiente onde atualmente predomina o autoritarismo de um grupo que governa o Colégio Estadual do Paraná como se fosse uma oligarquia. Projeto Elitista X Projeto Progressista Segundo o discurso do prof. Romeu Miranda, presidente do Conselho Estadual de Educação, no programa Fórum Social da TV Cultura (22/11/2007), o que está em jogo é um projeto de escola progressista, voltado para as classes trabalhadoras, que está sendo implantado pela profª Madselva, que se opõe ao projeto de escola elitista atualmente em vigor no Colégio Estadual do Paraná. Para quem não sabe, o principal responsável pela implantação deste projeto denominado “elitista” foi o próprio prof. Romeu que esteve no comando pedagógico do CEP do início de 2003 ao final de 2005. É, no mínimo, curioso que este professor, hoje na cadeira de Presidente do Conselho Estadual de Educação, indicado pelo Governador do Estado, tenha mudado tão radicalmente a sua opinião sobre qual concepção de educação deve nortear o Projeto Político Pedagógico do Colégio Estadual do Paraná. Todo mundo tem o direito de mudar o seu ponto de vista, mas o que não podemos fazer é fugir das nossas próprias responsabilidades. Que exemplo daremos às nossas “crianças”?

Sobre o controle de freqüência dos professores A profª Madselva afirmou, entre outras coisas, que alguns integrantes do corpo docente estão revoltados porque ela agora está exigindo a presença dos professores. Para isso, ela introduziu um controle através do livro ponto, algo que não existia no Colégio Estadual do Paraná. É importante esclarecer que sempre houve um acompanhamento rigoroso da freqüência dos professores que, antes da mudança, era feito através dos diários de classe que ficavam sob a responsabilidade das inspetoras de corredor. Quando havia falta ou atraso de algum professor, as inspetoras registravam e encaminhavam para a Direção Auxiliar para as providências cabíveis junto ao departamento de recursos humanos (GARH) do CEP. Não só havia controle, como ele era ainda mais eficiente, pois quando a soma dos atrasos registrados chegava a 50 minutos, era atribuída uma falta em uma aula para o professor, desde que não houvesse justificativas legais. O argumento da professora Madselva para justificar a mudança, aceito por todos os professores, era de que trata-se de uma questão legal para a segurança funcional do próprio professor. Da maneira como a profª Madselva fala à imprensa sobre a mudança, dá a entender que os professores do Colégio Estadual do Paraná são irresponsáveis a ponto de não cumprirem, sequer, uma das obrigações funcionais mais básicas que é o horário. É mais fácil dizer isso do que assumir que os professores não estão simplesmente revoltados, mas decepcionados porque as mudanças que esperavam da profª Madselva eram no direcionamento pedagógico da escola: esperavam que ela viesse para qualificar o Projeto Político Pedagógico, algo que até o presente momento continua na mesma situação que estava antes da sua chegada.TV Paraná Educativa ou aparelho ideológico do Estado? No programa denominado Fórum Social da TV Paraná Educativa esteve presente todo o aparato de defesa da profª Madselva, mas não havia ninguém falando em nome da oposição. A palavra fórum, no sentido que o referido programa pretende empreender, significa, conforme o dicionário Houaiss, “reunião, congresso, conferência que envolve debate de um tema”. Todo mundo sabe que para haver debate é preciso que existam pelo menos duas posições opostas. Não foi isto o que aconteceu. Por outro lado, alguns dos demais meios de comunicação, chamados constantemente por este governo de “imprensa marrom”, têm dado uma aula de jornalismo na nossa, outrora, exemplar televisão pública, permitindo, pelo menos, o direito de resposta aos lados opostos do jogo. As “crianças” que lideram o movimento dos estudantes poderiam muito bem exemplificar este paradoxo grotesco com a famosa canção infantil: “A cobra não tem pés... A cobra não tem mãos... Como é que a cobra sobe no pé de limão?”

Prof. Wanderley José Deina
Mestre e doutorando em Educação pela USP


Este e outros textos do prof. wanderley estão postados em http://profwanderley.blogspot.com/

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