sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

DIRETORA AUTORITÁRIA CAUSA REVOLTA NO MAIOR COLÉGIO PÚBLICO DO PARANÁ11

11.12.2007
O Colégio Estadual do Paraná (CEP) é remanescente da época em que o Estado mantinha escolas públicas de alto nível nas quais se formavam os futuros dirigentes e pensadores da nação. Com 5.000 alunos e 161 anos de história, é a maior e mais antiga escola do estado.No entanto, tanto sua fama quanto o seu enorme prédio-museu (que parece mais uma universidade, possui piscinas olímpicas, teatros e até mesmo um planetário) são apenas a casca vazia de uma escola que, cada vez mais, tem sua estrutura e seu propósito de formação destruídos juntamente com o ensino público do país.Neste ano, o secretário estadual da educação, Maurício Requião (irmão do governador populista do estado, Roberto Requião – PMDB), nomeou uma nova diretora à escola, a pedagoga Maria Madselva Ferreira Feiges. E, sob a máscara de “defensora da causa do ensino público”, a nova diretora revelou seu total desprezo por qualquer democracia que pudesse haver na instituição, decretando normas autoritárias e mostrando que veio a serviço de um novo tipo de administração.“Projeto político-pedagógico” = repressão“Emancipador. É obvio! É óbvio porque, ao falar em Escola Pública, há uma referência implícita ao conceito, ou porque já se descobriu que o óbvio não é fácil e que exige superação da ideologia burguesa e do senso comum. (...) Neste sentido a construção coletiva do Projeto Político–Pedagógico da Escola Pública cumpre sua função emancipadora...” (FEIGES, Maria M. F. Repensando o Projeto Político–Pedagógico da Escola Pública: emancipador ou educação por excelência?)Apesar do discurso “emancipador”, a administração que a nova diretora-sofista preza segue fielmente a cartilha da destruição das escolas e da retirada de direitos de professores e estudantes. Algumas das medidas de Madselva incluem decretar o uso de livro-ponto aos professores e transferir metade das inspetoras do colégio para o serviço de limpeza! Desprezando a avaliação dos professores, a diretora também “revogou” a reprovação de diversos alunos via ato administrativo, e criticou o índice de reprovados (visando tornar a escola mais “eficiente” ao se livrar com mais rapidez dos alunos). Diante de algumas manifestações de discordância por parte de professores, ela não se intimidou e passou a vigiá-los e afastar alguns de cargos, culminando com a suspensão de 30 dias imposta a 2 professores e a exoneração de 4 funcionários. Disse a diretora, eliminando qualquer direito ao contraditório dentro da escola: “A partir do momento que se posicionaram contra mim, deveriam ter pedido demissão e, como isso não aconteceu, eu preferi afastá-los".Os alunos chegaram a explodir uma bomba em um dos banheiros, mas a resposta que receberam da diretora foi além dos limites do autoritarismo: ela proibiu o uso de banheiros no colégio!Em novembro, tudo isso culminou com a revolta dos estudantes, que se recusaram a entrar nas aulas e organizaram paralisações com professores e funcionários. As reivindicações se focaram no afastamento imediato da burocrata e na exigência de eleições diretas para diretor, sendo o CEP a única escola pública (com exceção das escolas militares e religiosas) do Paraná que tem seu diretor nomeado ao invés de eleito pela comunidade.Mas, para conter a revolta e manter seu cargo, a burocrata fez uso de cada vez mais repressão. Professores e estudantes são ameaçados, muitos têm suas aulas observadas para garantir que não discutam essas questões “políticas” nelas, os inspetores estão fotografando abertamente os “suspeitos”, policiais à paisana acompanham as movimentações e a televisão do estado, junto com a Secretaria de Educação e até o Ministério Público apelaram aos pais de alunos que mandassem seus filhos de volta às aulas. No dia 7 de novembro, em uma paralisação, a polícia algemou dois alunos que acionaram um extintor de incêndio e os levou no camburão, jogando o veículo sobre os estudantes que tentaram impedir a prisão. Justamente por isso, em contraste com seu passado “pomposo”, o CEP serve como símbolo da ruína em que se encontram as escolas públicas hoje. Ruínas estas que só se impõem sob forte repressão e autoritarismo de burocratas como a diretora Madselva. Se o movimento agora foi abafado graças a todo aparato repressivo e ideológico da direção e do governo, os estudantes mobilizados apontaram para o futuro ao questionar o poder na escola: deveriam seus rumos ser decididos pela maioria (estudantes, professores e funcionários) ou por uma única burocrata autoritária?

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