segunda-feira, 3 de março de 2008

e-mail enviado aos deputados pela professora Malu

Curitiba, 28 de fevereiro de 2008
Nobres deputados, sou a professora Maria Luíza Moreira da Rocha Diniz Lacerda. Trabalho no Colégio Estadual do Paraná desde 1998, mas sou aposentada como Diretora Geral do Colégio Estadual Professor Rousset, em Sete Lagoas, MG,(escola em que trabalhei durante 22 anos, primeiro como professora e depois como diretora), cargo para o qual fui concursada e eleita, três mandatos consecutivos. Fui também presidente de um Colegiado de Diretores, representando a 36ª Superintendência Regional de Ensino (MG), também eleita para três mandatos consecutivos. O objetivo deste Colegiado era contribuir para a democratização efetiva da gestão pública e participar das decisões da SEED numa busca constante da melhoria da escola pública. Aposentei-me, quando ainda vigorava a Constituição anterior, vim para o Paraná e fiz novo concurso público. Sou professora QPM, lotada no CEP. Nunca fui filiada a nenhum partido político, mas sempre estive a serviço da mais legítima política: a incansável busca de caminhos que permitam à escola pública cumprir DE FATO a sua função social.
No Colégio Estadual do Paraná, fui eleita diretora auxiliar, responsável pelo turno da tarde, cargo que ocupei de dezembro/2003 a fevereiro/ 2007. A credibilidade que tenho na comunidade escolar foi construída com base numa prática coerente com os princípios que sempre defendi, num respeito profundo às limitações e diferenças das pessoas (inclusive as minhas) e incentivo constante ao desenvolvimento de suas potencialidades mais positivas. Em 34 anos de dedicação ao magistério não há absolutamente nada que dasabone a minha história.
Infelizmente, temos participado de um momento extremamente triste na história do CEP. Por acreditarmos que o que diferencia um jovem das classes privilegiadas e outro da “periferia” são as oportunidades, por acreditarmos que o ensino de qualidade forma cidadãos emancipados e autônomos, por sabermos que somente o ensino público de qualidade é capaz de garantir igualdade de condições dentro das universidades públicas ou privadas, começamos a questionar, dentro do Colégio, algumas práticas da Diretora Geral. Primeiramente solicitamos que ela nos ouvisse e aceitasse discutir vários encaminhamentos feitos por ela e pela chefe da Divisão Educacional, responsável pelo pedagógico da escola. Foi marcada uma reunião geral que, infelizmente, não trouxe os resultados esperados. Elaborou-se então um documento com a síntese das questões tratadas na reunião, que foi encaminhado ao Sr. Maurício Requião, solicitando uma audiência, mas lamentavelmente não houve espaço na agenda do Secretário. A partir daí surgiram outras manifestações. Como resposta às nossas reivindicações, começaram as retaliações: primeiramente dois professores (QPM- lotados na escola) suspensos e processados, posteriormente, mais sete professores também QPM, lotados na escola, foram também processados. Sou uma das professoras processadas, suspensa pela 3ª vez, por mais 30 dias, a partir de 01/02/2008, como medida preventiva(?). A primeira suspensão ocorreu a partir de 09/11/2007.
Em janeiro/2008, foram dispensados treze professores (QPM – ordem de serviço) muito competentes e comprometidos com o projeto de educação que defendemos, muitos deles com mestrado, alguns doutorandos, substituídos por professores PSS, muitos sem qualquer experiência no magistério. Tudo isso por se manifestarem contrários a incoerências e decisões unilaterais de uma Diretora Geral que se diz democrática.
No dia 26/02/2008, saímos muito esperançosos da reunião da CCJ, referente à votação do projeto de lei 825/07, que propõe eleições diretas para diretor do Colégio Estadual do Paraná.
Segundo a teoria da professora Madselva, abissalmente distante de sua prática, “a eleição de diretor de escola constitui um momento privilegiado para reflexão coletiva e enfrentamento ao projeto neoliberal de sociedade e de educação que reforça os processos de exclusão e de desumanização a que a população vem sendo submetida fora e, muitas vezes, dentro da escola... o diretor tem um papel relevante na condução da autonomia responsável que experimenta saberes e transgride o velho estilo de gestão, criando coletivamente formas de garantir direitos, de humanizar as relações, os tempos e os espaços pedagógicos, porque todo lugar de criança e adolescente TEM QUE SER HUMANO, SEM SEGREGAÇÃO, ONDE O ATO DE EDUCAR SEJA UM FAZER ÉTICO, SOLIDÁRIO, ESCULPIDO COM A DIGNIDADE DO SER HUMANO E DO MUNDO” (FEIGES, Maria M. F. O projeto Político-Pedagógico e a eleição de diretores de escola: limites e possibilidades da gestão democrática. Maringá: SME, Caderno temático I, 2003).
Pela experiência que temos, estamos certos de que a eleição traz um ganho imensurável para a construção de um projeto político coerente com os anseios da comunidade escolar. Por isso, agradecemos o apoio dos nobres deputados presentes à sessão da CCJ e pedimos que nos ajudem nesta luta, que não é apenas da Comunidade Escolar do Colégio Estadual do Paraná, mas de toda a sociedade paranaense.
Queremos acreditar que o Excelentíssimo Sr. Governador e o Sr. Secretário de Educação não saibam de fato o que está acontecendo no Colégio Estadual. Posso lhes garantir que não somos contra as políticas públicas e que não há entre os professores punidos nenhum interesse politiqueiro, como tem sido ventilado a todo momento, numa clara intenção de nos criminalizar e de desqualificar a nossa luta. Não sou candidata a nada, tenho projetos pessoais de, num futuro não muito distante, deixar de viver neste estado que aprendi a amar e valorizar. Reivindicamos apenas condições dignas para o trabalho sério que sabemos e queremos fazer.
Respeitosamente,
Professora Maria Luíza (Malu)

2 comentários:

Anônimo disse...

Senhores Deputados, será que mesmo assim os senhores farão o papel covarde da omissão? Votando contra a educação de qualidade, democrática, que é uma das frases mais usadas por vossas senhorias em momentos eleitorais??
Ora senhores, honrem seus filhos, netos, sobrinhos ou apenas algum afilhado que por ventura tenha "precisado" algum dia da escola pública!

Anônimo disse...

pergunta que não quer calar: professor PSS não é tão competente e dedicado quanto um qpm????